Uvas Verdes.

As primeiras horas do dia era a consagração da união desequilibrada dos mais novos casados, Olinda e Florino. Ela, uma apaixonada sem pudores, ele, um observador metódico do seu próprio amor.

O café da manhã era o ritual de conquista, se tudo estivesse conforme seu macho queria, a fêmea seria acalentada por todo o resto do dia, até o sono devastá-los em inconsciência.

A toalha da mesa era de um xadrez intrigante, de cor insípida (licença poética), tal qual como o nosso casal aqui descritos. Talheres em tons de cascas de madeira nova, xícaras bojudas que cabiam o nascer do sol vermelho, pães sensualíssimos cobertos com açucar do melhor confeiteiro e o leite no bule ainda pelando, compunha a estratégia da recém-casada para impressionar mais uma vez seu homem, como sempre fizera nesse exato um mês de cafés esplendorosos.

- Florino querido, passe-me a manteiga.

A cada mordida no pão diluída em leite, via-se claramente que aquilo não se tratava de um mero café da manhã, aquele bolo alimentar na boca do Florino não era como os trinta passados.

- Enquanto estiveres viajando, deixarei a mesa pronta todos os dias, só farei a refeição da manhã, para não sucumbir sua presença espiritual enquanto se ausenta, disse Olinda afetiva e corada.

- Faça todas as refeições, não irei voltar, disse Florino, que no canto da boca carregava os farelos do pão junto da manteiga derretida pelo calor de sua saliva.

Numa palidez instantânea, Olinda se encontra perdida, porque tudo que sempre fez estava presente à mesa, do Provolone até a flor copo de leite.

- São os biscoitos que estão açucarados demais?, o leite que esfriou?, o café que está amargo?, então é o queijo que está podre?, desesperou-se Olinda na tentativa de suprir a necessidade do amado afim de não perdê-lo.

- São as uvas Olinda, as deliciosas uvas verdes que nunca estão à mesa!, e saiu para nunca mais amanhecê-la.

-Ciranno Gonzálles-